Hiroo Onoda, o soldado que lutou contra inimigos imaginários por 30 anos

Hiroo Onoda foi enviado às Filipinas para uma missão durante a II Guerra Mundial, mas decidiu permanecer lutando mesmo depois do fim da guerra.

Hoje você vai conhecer uma das histórias mais curiosas já produzidas pela humanidade e se você acha que conhece uma pessoa teimosa, é porque não teve contato com Hiroo Onoda.

A II Guerra Mundial foi um dos piores momentos da história recente do mundo, tendo deixado um rastro e de morte de 50 a 80 milhões de pessoas, guerra esta que teve participação vitoriosa do nosso país, o Brasil.

Hiroo Onoda (小野田寛郎) nasceu em 19 de março de 1922 em Kamekawa Village, província de Wakayama. Ele se formou no ano de 1939 e foi trabalhar numa empresa comercial japonesa sediada em Xangai.

Hiroo Onoda

Ao fazer 18 anos, o homem se alistou na Infantaria do Exército Imperial Japonês.

Aos 22 anos e já como Tenente, em dezembro de 1944, ele foi enviado para Lubang, uma pequena, mas estratégica ilha nas Filipinas, onde recebeu ordens expressas do Major Yoshimi Taniguchi para espionar, sabotar e atacar tropas americanas.

O Major Yoshimi Taniguchi foi taxativo ao afirmar que sob nenhuma circunstância ele deveria se render ou praticar suicídio. Um trecho da carta dizia que “Isso pode levar três anos, pode levar cinco, mas aconteça o que acontecer, nós vamos voltar até você.”.

Hiroo o fez sem hesitar.

As tropas americanas chegaram a Lubang em fevereiro de 1945, rendendo a grande maioria dos soldados japoneses, mas não Onoda e outros três colegas, que conseguiram se esconder.

As buscas por eles continuaram fortes, mas sem sucesso. Onoda disse mais tarde que os panfletos espalhados pela ilha pareciam falsos: “Os folhetos continham muitos erros, então presumimos que isso era uma manobra dos americanos para nos enganar”.

Os 4 amigos construíram cabanas de bambu, onde se abrigavam e se alimentavam com bananas, leite e carne de gado roubada.

Ratos e mosquitos eram uma constante naquela situação de um país tropical, mas Onoda mantinha seu armamento muito bem cuidado.

Os 4 estavam obstinados a não se render facilmente, lutando contra colonos da ilha e policiais locais. Um dos seus colegas só se rendeu às autoridades filipinas no ano de 1950, outro foi morto em 1954 e o outro em 1972, ambos em confrontos contra policiais.

Hiroo Onoda foi dado como morto no Japão no ano de 1959.

Por algum instinto milagroso e inexplicável, um estudante japonês chamado Norio Suzuki, tinha a certeza de que Hiroo Onoda estava vivo. Em 1974 Suzuki rumou para Lubang para procurar por Onoda e, posteriormente, devolvê-lo ao seu lar, o Japão.

Onoda vivia.

Suzuki encontrou Onoda com 54 anos, mas o homem estava irredutível quanto a seu posto, permanecendo imóvel em seu lugar e afirmando que só sairia dali se o seu comandante mandasse.

Norio Suzuki voltou ao Japão, mostrando fotos de Hiroo Onoda ao governo que decidiu enviar para as Filipinas o irmão de Hiroo e seu ex-comandante, Yoshimi Taniguchi.

Após a dispensa dada por Taniguchi, Onoda chorou compulsivamente.

O homem ficou muito decepcionado com os quase 30 anos desperdiçados, uma vez que ele perdeu 2 colegas em combates e matou em torno de 30 nativos da região sem motivo justo.

Ele foi o penúltimo dos “holdouts”, nome dado a soldados enviados para os países do sudeste da Ásia e que simbolizavam a assustadora lealdade ao imperador japonês. Teruo Nakamura, preso em 18 de dezembro de 1974, foi o último desses homens a se entregar.

Ao voltar para o Japão, ele recebeu tratamento de herói, tendo recebido um pagamento relativo a 30 anos de trabalho.

Assim como todas as pessoas que não vivem em sociedade por muito tempo, ele também teve dificuldades de adaptação e, no final das contas, fez como seu irmão, Tadao, vindo para o nosso amado Brasil, onde comprou uma fazenda e casou-se no ano de 1976.

Ele teve um papel de liderança na Colônia Jamic, uma comunidade japonesa agrícola em Teresos, no Mato Grosso do Sul, e escreveu a autobiografia “No Surrender: My Thirty-year War” (Os Trinta Anos da Minha Guerra).

No ano de 1984 ele voltou ao Japão, onde criou uma escola para ensinar técnicas de sobrevivência para jovens. Lá ele proferiu a forte frase: “Os homens nunca deveriam desistir. Eu nunca desisto. Eu odiaria perder.”.

 

Em 1996, Hiroo Onoda voltou para as Filipinas e doou U$10.000 dólares para escolas locais da ilha de Lubang.

Apesar dos distúrbios que causou na região, o presidente filipino Ferdinand Marcos entendeu que a situação merecia perdão.

Onoda foi condecorado com a Medalha de Mérito de Santos-Dumont pela FAB em 6 de dezembro de 2004 e tornou-se Cidadão Sul-Matogrossense em 21 de fevereiro de 2010.

Hiroo Onoda finalmente descansou no dia 16 de janeiro de 2014, em Tóquio, aos 91 anos de idade, de insuficiência cardíaca devido a complicações de uma pneumonia.