Mossoró, a cidade que não se acovardou e botou Lampião para correr

Mossoró foi palco de uma das investidas mais heroicas da história do Brasil, onde os moradores locais desafiaram a “autoridade” do criminoso Lampião, fazendo com que ele e seus cangaceiros tivessem que fugir de lá.

Mossoró
Lampião não teve a menor chance

Durante o Século XX, Lampião tocava o terror em cidades pequenas do Nordeste, saqueando várias delas, sequestrando pessoas, abusando de mulheres e degolando inocentes, uma barbárie muito similar às que alguns bandidos praticam hoje em dia.

Como naquela época, havia quem defendesse, mas não o povo de Mossoró, cidade muito desenvolvida, onde os criminosos do cangaço eram visto como o que eram, bandidos.

No ano de 1927, Lampião se viu contrariado ao ameaçar os mossoroenses e ser desafiado pelo povo e autoridades daquela cidade.

Por este motivo, ele juntou um grupo de cinco bandos de cangaceiros, o que significava que 5 grupos de marginais iriam impor uma das maiores barbáries da história naquele momento, assaltando, humilhando e abusando do povo de Mossoró.

Seria um banho de sangue, pois criminosos contumazes estavam capitaneando os bandos, eram eles o Jararaca, Sabino Costa, e Massilon Leite, além do pior de todos, Virgulino Lampião, que juntos marcharam 1.500 quilômetros em direção a Mossoró, município do interior do Rio Grande do Norte.

Enquanto os facínoras marchavam em direção a Mossoró, o prefeito Rodolpho Fernandes preparava o contra-ataque.

A notícia de que Lampião atacaria Mossoró caiu como uma bomba na cidade no dia 30 de maio, através de uma nota da Prefeitura no jornal O Nordeste, intitulada “Segurança Pública – Aviso da Prefeitura de Mossoró para tranquilidade das famílias e do povo em geral”.

O conteúdo da nota era o seguinte: A prefeitura de Mossoró avaliando o desassossego de muitas famílias e apreensões no espírito público, pelos boatos alarmantes sobre os bandidos que assaltaram algumas localidades do Estado, declara, para tranquilidade de todos que o Governo do Estado tem tomado as providências para defender todos os municípios dos referidos bandidos. […] De nossa parte podemos afirmar que a nossa preocupação é de tal ordem, em garantir a segurança da cidade, que toda a nossa atividade nesses últimos dias, se tem aplicada em dispor a defesa, com a louvável e benemérita cooperação dos cidadãos mossoroenses que, para isto, não regateiam esforços (O NORDESTE, 1927).

Muitos cidadãos não acreditavam que pudesse ser verdade, pois era comum que desinformação fosse espalhada por algumas pessoas.

Alguns diziam que Lampião tinha o corpo fechado, outras juravam de pés juntos que um criminoso do bando que foi morto, na verdade estava vivo. Essa tática era reforçada quando se descobria que outros criminosos eram colocados no lugar para substituir o falecido, mas utilizando o mesmo nome.

Tudo isso não assustou os mandantes de Mossoró.

Rodolpho Fernandes marcou uma reunião com autoridades e representantes da população no Paço Municipal de Mossoró no dia 11 de junho. Comerciantes, seus funcionários, proprietários de terras, oficiais e várias outras pessoas influentes apareceram na reunião.

O Tenente Laurentino de Morais ficou incumbido de proteger as repartições públicas estaduais e federais e assim o fez, apesar de ter pouco mais de 20 homens no seu efetivo.

Laurentino de Morais, Rodolpho Fernandes e Vicente Sabóia Filho, diretor da estrada de ferro naquele momento, passaram a organizar as defesas da cidade, construindo trincheiras e mapeando pontos de vulnerabilidade da cidade.

Vicente Sabóia Filho era muito importante para a defesa, pois o modus operandi dos cangaceiros incluía sempre atacar estações de trem, veículos e meios de comunicação, fazendo com que as cidades ficassem ilhadas e sem chances de se comunicar com cidades vizinhas.

Apesar de ser um provável alvo dos bandidos, o palacete do prefeito não contava com segurança reforçada, tendo apenas as armas do próprio prefeito à disposição.

Mossoró tinha em torno de 20 mil habitantes, uma cidade grande para os padrões da época, deixando claro que Lampião estava dando um passo maior do que a perna, motivado por um saque bem sucedido feito pelo bando de Massilon em Apodi, cidade vizinha.

Uma semana antes do ataque a Mossoró, o grupo de cangaceiros levou terror a uma região de Luis Gomes, no Alto Oeste, rapinando dinheiro e provocando sofrimento em 8 municípios pelos quais passaram. No dia 12 de junho, chegaram a São Sebastião (Governador Dix-Sept Rosado), onde a provável semente da vitória foi plantada, pois alguns historiadores afirmam que uma mensagem feita por telégrafo foi enviada a Mossoró naquele dia, avisando no ataque que estava por vir.

Ainda naquele dia 12, famílias inteiras fugiram de Mossoró como podiam, deixando a cidade vazia para o confronto que aconteceu no final da tarde do dia 13.

Assim que o bando de Lampião chegou, se deparou com as ruas vazias e foram emboscados pelas centenas de homens que ficaram para fazer resistência.

A organização era tão grande que a Capela de São Vicente contou com atiradores na sua torre, proporcionando a “Chuva de balas de Mossoró”.

Mais de duas horas de conflito armado fizeram com que os marginais covardes fugissem dali, deixando para trás vários feridos, inclusive Jararaca, que foi preso, morrendo mais tarde e sendo sepultado em Mossoró. Existe a lenda também de que o marginal foi, na verdade, enterrado vivo.

A derrocada de Virgulino Ferreira da Silva começou ali, pois Lampião colecionou derrotas após este incidente.

O prefeito da cidade, Rodolpho Fernandes, morreu alguns meses depois de causas naturais.

A população comemora esta vitória contra os bandidos de Lampião até hoje.