Por que todas as medalhas brasileiras até agora são de militares?

O fato de todas as medalhas do Brasil até o presente momento serem de militares revela alguns aspectos da nossa nação como um todo, não apenas nos esportes.

Antes de explicar o meu ponto de vista sobre o motivo de não conseguirmos “engrenar“, vou contar uma frustração pessoal a você, caro leitor.

Eu não servi o Exército Brasileiro. Não por não conseguir entrar, mas por pura burrice, eu estava para ingressar no EB, mas eles iam dispensar 12 de 130 homens e eu pedi para estar entre esses 12, basicamente porque com 18 anos eu era vagabundo demais e não gostava de uma coisa chamada disciplina, atitude que aprendi a amar alguns anos depois.

Os atletas brasileiros das Forças Armadas fazem parte do Programa Atletas de Alto Rendimento. Este programa é uma parceria das Forças Armadas do Brasil com o Ministério do Esporte.

O que todos esses atletas vencedores têm em comum? Todos eles são alguns dos melhores no que fazem e são cobrados por isso.

Observando os Estados Unidos, líder no quadro de medalhas, sabe que a cobrança dos atletas naquele país começa já na infância. O espírito de competidor é incentivado desde a mais tenra idade e isso se evidencia nos jogos colegiais e universitários, campeonatos que são mais bem organizados que o Campeonato Brasileiro de Futebol, o mais importante do Brasil, que depende muito mais da boa vontade da Rede Globo do que da preocupação com o bom rendimento dos atletas em campo para ser organizado.

Nosso país infelizmente é impregnado de ideologias inócuas e isso afeta tudo o que fazemos. A “Pedagogia do Oprimido”, câncer literário criado por Paulo Freire, incentiva que não se evidenciem os melhores, mas sim que se parabenize a todos. Seguindo esta vertente, alunos ficam desmotivados em conseguirem ser os melhores e talentos são desperdiçados.

Quanto ao talento, sabemos que o talento natural pode existir, composto pelo corpo perfeito para a prática de algum esporte, mas também há o talento conquistado.

Todo atleta que é muito bom em algo, é porque treinou muito para ser o melhor nesse algo. Os melhores batedores de falta do futebol mundial costumam treinar mais que seus colegas e por isso tornam-se os melhores no que fazem. Felipe Wu, atleta que foi atrapalhado de forma contumaz pelo assassino Estatuto do Desarmamento só conseguiu a medalha de prata que conseguiu por atirar, atirar e atirar até conseguir a excelência no tiro esportivo.

O esporte aqui é, basicamente, hobby de final de semana e não é visto com o profissionalismo que merece. Isso custa um preço alto nos campeonatos profissionais.

Em matérias patéticas, jornalistas brasileiros atribuem o abismo financeiro da seleção masculina com a seleção feminina ao machismo, como se a população brasileira não gostasse de mulheres em si. Nestas Olimpíadas, isso se prova falso, tanto que a nação está disposta a abraçar Marta e suas colegas com todo o prazer e vigor que for possível.

A diferença de contingente de garotos querendo jogar futebol e de meninas é tão gritante quanto o abismo financeiro, por isso, é natural que as famosas peneiras sejam mais “sanguinárias” entre os meninos e gerem mais material para um futuro competitivo.

No caso do futebol feminino, é aí que entra outro problema enfrentado no Brasil, a falta de incentivo financeiro para os atletas.

Os poucos esportes onde o Brasil possui alguma competitividade são os que contam com o apoio financeiro do estado, através de patrocínio das estatais Correios, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

E por que o empresariado brasileiro apoia pouco os nossos atletas? Eles são malvados? Eles não gostam de esportes? Eles só pensam em sugar o país?

Claro que não, toda empresa gostaria de exibir com honra que apoia financeiramente algum atleta, mas qualquer pessoa que tenha uma empresa pequena sabe que para cada funcionário contratado, você precisa pagar uma parte igual em impostos ao estado.

O estado brasileiro suga financeiramente os brasileiros e as empresas até que não hajam forças para criar o ambiente propício para atletas conseguirem bons resultados, mesmo o mais disciplinado dos atletas acaba sucumbindo diante dos problemas.

Todos os atletas que representam o Brasil nas Olimpíadas podem ser considerados heróis, mas enquanto a parte financeira e ideológica não são resolvidos, dependeremos do ambiente militar e da disciplina dos atletas militares para que medalhas sejam conquistadas.